Para quem, assim como eu, não sabia a autora Ruth-Guimarães (1920-2014) foi a primeira escritora brasileira negra a ter projeção nacional com o livro "Água funda" em 1946. Formada em filosofia pela USP, profissionalizou-se jornalista e conseguiu em 2008 entrar para Academia Paulista de Letras.
Confesso que quando soube que a Faro editorial lançaria algumas coletânias de contos dela fiquei logo interessada e me perguntei como nunca havia estudado tal autora na cadeira de literatura da escola; são tantos escritores talentosos no nosso país que se formos mergulhar a fundo só teremos aprendizados a adquirir. E foi exatamente isso que obtive ao ler esses dois livros, garanto que se você gosta de literatura e/ou das temáticas sobre os ancestrais do povo brasileiro irá gostar muito dessas leituras.
Contos Negros (confesso ter gostado mais =)
Nesse livro encontramos uma reunião de material recolhido da fonte, o povo, aquele que conta histórias, que passa de geração a geração; ou seja a autora reuniu histórias que eram contadas oralmente e as transcreveu para que pudessem ficar de herança para todos que tivessem curiosidade e interesse pela origem da cultura popular brasileira, 'profundamente negra'
"O que inspira bons pensamentos ao imaturo, ao homem simples, ao rústico, inspirará bons pensamentos à criança."
"Por muitos anos, séculos, a África foi considerada um continente fechado, desconhecido mesmo dos colonzadores, desbravadores de selva e caçadores de bichos. E dos predadores de homens. (...) Pensava-se que a África estivesse ilhada do mundo. Enorme continente misterioso, com cultura própria, sem influência exterior."
"Um traço de africanidade existente em diversos dos nossos contos populares, recontados entre população mestiça, é a cadência."
Conseguimos conhecer um pouco dos mitos das tribos da África, a alterações que sofreram ao chegar ao Brasil e se juntar as demais culturas que tiveram contato e também vemos as representações e importancia dos animais (Mitologia Afro-Brasileira) nos contos.
Contos Índios
Nesse livro a autora deixa claro que não é um livro especializado sobre os índios, mas uma coletânea de contos sobre o folclore ameríndio, ao alcance dos jovens.
Ela vai nos apresentando de forma breve toda trajetória do índio, onde viviam (no caso desse livro 'Vale do Paraíba'), sua cultura, a mistura com outras etnias, sua contribuição na cultura e dia a dia do povo brasileiro, que estava em formação, seu artesanato e utilidades, sua rica culinária (até receitas são encontradas no livro). Enfim de uma forma geral, com um conteúdo muito interessante, importante e útil para conhecimento de todos.
"As histórias indígenas devem ser lidas com o coração. A cabeça costuma fazer juízos de valor, o coração apenas sente porque se abre ao mistério de existir."
"Duas coisas os selvagens aprendem desde a infância. Valentia diante do inimigo e amizade protetora por suas mulheres."
"As histórias são vozes ressonantes que ecoam a partir do desejo de confessar mistérios; mistérios nascem do medo, da incompreensão dos fenômenos, da necessidade de justificar a existência."
"Sem histórias a vida fica rude, dura, difícil, cruel. Elas trazem à tona o simbólico e humano que há em cada pessoa."
"Os índios estão em nós (...) Diluídos na linguagem,"
A Diagramação está linda, esse é daqueles livros que deveriam ser estudados nas escolas para desenvolver o interesse dos jovens pelo conhecimento e valorização de suas origens culturais.
Fica a dica de leitura que só tem a acrescentar na vida do leitor. Valorize o autor nacional!!!
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